Festa da Apresentação do Senhor

Confira, neste artigo, o que é a festa da Apresentação do Senhor e porque a celebramos no dia 2 de fevereiro.

Data da Publicação: 31/01/2024
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Autor: Redação MBC

Festa da Apresentação do Senhor: você sabe tudo que deveria saber para bem viver esta liturgia?

Envolta por uma profundidade única, que une os mistérios do Natal e Páscoa, bem como os mistérios de Cristo e de Maria, esta festa litúrgica, celebrada há séculos, está longe de ser superficial ou simplória.

Confira, neste artigo, o que é a festa da Apresentação do Senhor e porque a celebramos no dia 2 de fevereiro.

O que é a Festa da Apresentação do Senhor?

A Apresentação do Senhor é a festa litúrgica em que a Igreja celebra o momento em que a Sagrada Família vai a Jerusalém a fim de cumprir a Lei mosaica, consagrando Jesus a Deus e purificando Nossa Senhora após o parto. Tempos atrás, a festa era intitulada de “Purificação de Maria”. É, dessa forma, uma memória conjunta de Cristo e de Maria, intimamente unidos pelo mistério da Encarnação.

No oriente, se tem relatos dessa festa já no século IV, sendo chamada de “Festa do Encontro” (encontro de Jesus com Simeão e Ana, figuras do Povo de Deus). No século V, celebrava-se esta festa em Roma, e logo após, foi acrescida a ela a bênção das velas.

Quando a Festa da Apresentação do Senhor é celebrada?

A festa da Apresentação do Senhor é celebrada, sempre, no dia 2 de fevereiro, mesmo quando esta data cai no domingo. Isso ocorre porque são exatamente 40 dias depois da natividade de Jesus 1, tempo esse estipulado pela Lei de Moisés para a consagração do primogênito a Deus 2 e a purificação da mãe após o parto 1.

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A Apresentação do Senhor na Bíblia

Na Bíblia lemos o relato da apresentação do Senhor, de modo detalhado, no Evangelho escrito por São Lucas. Bem no início dele, no capítulo 2, a partir do versículo 21, é nos apresentado esse evento que tem uma importância ímpar para entender a história da salvação, anunciada a Israel desde muito tempo.

São Lucas nos narra que, oito dias depois da natividade de Nosso Senhor, Jesus é circuncidado, conforme a Lei anuncia 3.“E, quando chegou o dia de sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, como a lei do Senhor manda: todo primogênito homem será consagrado ao Senhor” 4.

Segundo a Lei, esse dia da purificação e apresentação ocorria decorridos 40 dias do nascimento.

Os detalhes devem ser lidos de acordo com a tradição judaica a fim de compreendermos a riqueza deste ocorrido. Os primogênitos eram, no início do judaismo, separados para o serviço do culto a Deus. Com o passar do tempo, desde que os descendentes da tribo de Levi assumiram este ofício, continuava-se com a prática de consagrar os primogênitos a Deus mediante um resgate de sacrifício.

Por ser Filho amado do Pai, Jesus já era consagrado a Deus desde toda eternidade. Mas, se fez obediente em tudo à Lei, e pela obediência à Lei, resgatou-nos do pecado e livrou-nos das amarras da morte eterna. Pela Lei, Jesus é conduzido, desde o nascimento, à casa do Pai, a fim de confirmar sua eleição e missão.

a purificação de nossa senhora na apresentação do senhor no templo.

A purificação de Nossa Senhora

Segundo a lei mosaica, 40 dias após o parto, as mulheres deveriam se apresentar no Templo para uma purificação ritual, pois tinha-se a compreensão de que a mulher se tornava impura após o parto, necessitando da pureza ritual para poder frequentar os lugares santos novamente.

Maria, porém, em virtude dos méritos de Cristo, já era toda pura. Ela é, com efeito, a Imaculada Conceição, concebida sem a mancha do pecado original, Virgem antes, durante e depois do parto. Em si, assim como Jesus não tinha necessidade absoluta de ser apresentado a Deus, por ser Ele desde toda eternidade consagrado, nem havia necessidade de ser circuncidado, Maria também não teria um porquê real de necessitar de purificação, uma vez que ela já era pura (a mais pura de todas as criaturas).

Por que, então, da necessidade da Purificação de Nossa Senhora? Para ensinar-nos o caminho da humildade e da obediência à Lei de Deus, caminho seguro de santificação. A purificação da Virgem Maria ocorreu no âmbito da legalidade, uma vez que ela não poderia se aproximar de lugares santos antes de cumprir esse ritual, segundo a lei mosaica. Ainda não era o tempo da Lei mosaica dar lugar à Lei definitiva, operada em Cristo Jesus, no altar da Cruz.

Entenda do que se trata o dogma da Imaculada Conceição.

A profecia de Simeão

Quando a Sagrada Família vai ao Templo para a Apresentação do Senhor, lá está Simeão, “homem honrado e piedoso, que esperava a consolação de Israel e se guiava pelo Espírito Santo.” 5. Segundo o Evangelista, Simeão fora comunicado pelo Espírito Santo que não morreria sem ver o Messias esperado. 6. De idade avançada, mantinha acesa a chama da esperança.

Movido pelo Espírito, foi, naquele dia, ao Templo. Ali, Simeão reconhece em Jesus, dentre todos os meninos presentes, o Messias anunciado e esperado. Ao tomar Jesus nos braços – imaginemos a cena – , emocionado por poder contemplar o que tanto esperava e ansiava ver, proclama duas palavras: uma, de júbilo 7, e outra, de profecia 8.

O júbilo, cantado até hoje, diariamente, em nossa liturgia das horas, é uma proclamação messiânica de Cristo. A promessa feita a Simeão, sendo ele símbolo do Povo de Deus, esperando por séculos a vinda do Messias, se cumpriu. Jesus, Messias, é a “Luz para guiar nossos passos no caminho da paz”. 9

A segunda fala de Simeão, que é a sua profecia propriamente dita, aponta para a íntima união entre o mistério do Natal e o mistério da Páscoa, bem como a unidade de Cristo e de sua Mãe. Simeão se dirige à Maria neste momento: “Eis que este menino está destinado a ser ocasião de queda e elevação de muitos em Israel e sinal de contradição” 10

Ao final, é dito a Maria sua participação nas dores do Calvário: “quanto a ti, uma espada te transpassará a alma” 11. Que mistério profundo! Cristo menino, já anunciado para a contradição. Com efeito, muitos iriam amá-Lo, mas outros muitos, rejeitá-Lo. Que mistério vemos em Maria, e quão profundas não soaram estas palavras em seu Coração Imaculado.

A profecia de Ana

Ana era uma viúva e anciã, que vivia “dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações” 12. Movida por Deus, não se afastava do Templo. Como profetisa, Ana conseguiu entender o que muitos aguardavam e esperavam ver: a presença de Deus. 

Assim como Simeão, no encontro com o Messias, brotaram dos lábios de Ana louvores, de modo que esta falou de Jesus “a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” 13. Ao passo que Simeão representa a esperança, Ana evoca a imagem da profecia acerca de Jesus. Ambos, anciãos, apontam para a jovialidade esperançosa.

Bênção das velas: uma bela tradição da Festa da Apresentação do Senhor

Baseado nos relatos do Evangelho, onde Simeão proclama Jesus como Luz das nações, uma tradição eclesial antiquíssima incluiu, na festa da Apresentação do Senhor, a chamada festa das Candeias ou da Candelária, que significa a Festa da Luz.

Uma bela liturgia, celebrada ainda hoje em diversos lugares, é a benção das velas, que é feita antes da Missa e, em geral, no escuro, fora da Igreja. Em procissão até a Igreja, entoando a antífona de entrada que diz: “Luz para iluminar as nações e glória de teu Povo Israel”, a assembleia adentra o templo, iluminando com as velas, símbolo de Cristo, as trevas da ausência de um Salvador.

pessoas com velas acesas numa igreja escura, uma tradição da festa da apresentação do senhor.

O que essa festa nos ensina?

São quatro as disposições profundas e belas que essa festa tem a nos ensinar:

Primeiramente, o mistério de Cristo e da Virgem Maria são indissociáveis, desde o nascimento até a morte, ressurreição e glorificação de Jesus.

Nos dizeres de São Paulo VI,“A Apresentação do Senhor deve ser considerada memória conjunta do Filho e da Mãe. Isto é, celebração de um mistério da salvação realizada por Cristo, ao qual a Virgem esteve intimamente unida como Mãe do Servo sofredor de Javé, como executora de uma missão referida ao antigo Israel, como modelo do novo Povo de Deus, constantemente provado na fé e na esperança pelo sofrimento e pela perseguição.” 14

Em segundo lugar, podemos notar como a Encarnação está intimamente unida ao mistério da morte e ressurreição de Jesus. A vida toda de Cristo possui uma missão única: a redenção humana. Todo Evangelho de Cristo deve ser lido nesta ótica.

Um terceiro ponto: entender o valor e a relevância da obediência a Deus e à sua Lei. Jesus é o consagrado de Deus por excelência, e, desde toda eternidade, é o primogênito amado de Deus. E, por causa de Cristo e sua Encarnação, Maria fora preservada de toda mancha de pecado, não precisando ser purificada de nada após o parto; com efeito, um dos dogmas professos e cridos por toda a Igreja é o da Virgindade Perpétua de Maria: Virgem antes, durante e depois do parto. O que Jesus e Maria nos ensinam? O valor da obediência a Deus, da humildade, e do reconhecimento da dependência exclusiva do Pai.

Enfim, a festa da Apresentação do Senhor nos ensina a viver a virtude da esperança. Simeão e Ana, anciãos, já no fim de suas vidas, souberam manter a chama da esperança acesa em seus corações. Essa esperança os fez reconhecer em Jesus a Luz dos povos e a esperança para Israel. Celebramos Jesus como única Luz e única esperança da humanidade. 

Que essa fé seja cultivada em nossos lares e em nossas liturgias, renovando, dia a dia, nossa entrega a Deus, para que, ao fim de nossas vidas, depois de anos e anos vividos na fidelidade a Deus e à sua Lei, possamos cantar, com Simeão e com Ana:

“Agora, Senhor meu, segundo tua palavra, deixas livre e em paz teu servo; porque meus olhos viram teu Salvador, que dispuseste diante de todos os povos como luz revelada aos pagãos e como glória de teu povo Israel.” 15.

Referências

  1. cf. Lv 12, 2-8[][]
  2. cf. ex 13, 11-16[]
  3. Lv 12,3[]
  4. cf. Lc 2, 22-23[]
  5. Lc 2, 25[]
  6. cf. Lc 2, 26[]
  7. versículos 25-32[]
  8. versículos 33-35[]
  9. Lc 2, 29-30[]
  10. Lc 2, 33[]
  11. Lc 2, 35[]
  12. Lc 2, 37[]
  13. Lc 2, 38[]
  14. cf. Marialis cultus 7, 2[]
  15. cf. Lc 2, 29ss[]