Vaticano, 02 nov. 20 / 11:55 am (ACI).- A Secretaria de Estado do Vaticano remeteu um comunicado aos bispos de todo o mundo em relação às declarações do Papa Francisco sobre a convivência ou união civil de pessoas homossexuais, recentemente difundidas no documentário “Francesco”.
Conforme confirmou ao grupo ACI o Núncio Apostólico no México, o Arcebispo Franco Coppola, trata-se de “elucidações que a Secretaria de Estado da Santa Sé enviou às Nunciaturas para que as difundissem entre os Bispos”.
Em seguida, a íntegra do comunicado do Vaticano traduzido por ACI Digital:
PARA ENTENDER ALGUMAS EXPRESSÕES DO PAPA NO DOCUMENTÁRIO “Francisco”
Algumas afirmações, contidas no documentário “Francisco” do produtor Evgeny Afineevsky, suscitaram, em dias passados, diversas reações e interpretações. Oferecemos portanto alguns elementos úteis, com o desejo de favorecer uma adequada compreensão das palavras do Santo Padre.
Há mais de um ano, durante uma entrevista, o Papa Francisco respondeu a duas perguntas diferentes e em dois momentos diferente, as quais foram editadas e publicadas no mencionado documentário como uma só resposta sem a devida contextualização, o qual gerou confusão. O Santo Padre tinha feito em primeiro lugar uma referência pastoral a respeito da necessidade de que, no seio da família, o filho ou a filha com orientação homossexual jamais sejam discriminados. A eles se referem a palavras: “as pessoas homossexuais têm direito a estar na família; são filhos de Deus, têm direito a uma família. Não se pode expulsar ninguém da família a ninguém nem tornar-lhe a vida impossível por isso”.
O seguinte parágrafo da Exortação apostólica pós-sinodal sobre o amor na família Amoris Laetitia (2016) pode iluminar tais expressões: «Com os Padres sinodais, examinei a situação das famílias que vivem a experiência de ter no seu seio pessoas com tendência homossexual, experiência não fácil nem para os pais nem para os filhos. Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar «qualquer sinal de discriminação injusta» e particularmente toda a forma de agressão e violência. Às famílias, por sua vez, deve-se assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a tendência homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida» (N. 250).
Uma pergunta sucessiva da entrevista era à sua vez sobre uma lei local na Argentina, proposta há dez anos, sobre os “matrimônios igualitários de casais do mesmo sexo” e à oposição do então Arcebispo de Buenos Aires a respeito. A este propósito o Papa Francisco afirmou que “é uma incongruência falar de matrimônio homossexual”, acrescentando que, nesse mesmo contexto, tinha falado do direito destas pessoas a ter certa cobertura legal: “o que temos que fazer é uma lei de convivência civil; têm direito a estar talheres legalmente. Eu defendi isso”.
Recordando que o Santo Padre se expressou da seguinte forma durante uma entrevista de 2014: “O matrimônio é entre um homem e uma mulher. Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diversas situações de convivência, movidos pela exigência de regular aspectos econômicos entre as pessoas, como por exemplo assegurar a assistência sanitária. Trata-se de pactos de convivência de diferente natureza, dos quais não saberia dar um elenco das distintas formas. É necessário ver os diversos casos e avaliá-los em sua variedade”.
Portanto, é evidente que o Papa Francisco se referia a certas disposições dos estados e, de nenhuma maneira, à doutrina da Igreja, numerosas vezes reafirmada no curso dos anos.