A unidade de vida é a qualidade de sermos quem realmente somos em todos os ambientes que estivermos. Muitas vezes, a falta dela é chamada de “jeitinho”, “jogo de cintura” ou “boa vizinhança” e precisamos ter cuidado com isso.
A virtude da unidade de vida ensina a agir como agiríamos se estivéssemos a sós com Deus, com nossas famílias, no nosso trabalho, com os amigos da paróquia, com os amigos no bar. Sendo quem realmente somos. A nossa realidade não nos exige morrermos mártires, mas exige uma coerência de vida fundamental para a evangelização de quem convive conosco. O Concílio Vaticano II diz: “o divórcio entre a fé e a vida diária de muitos deve ser considerado como um dos mais graves erros da nossa época. Já no Antigo Testamento os profetas repreendiam com veemência semelhante escândalo. E no Novo Testamento, sobretudo, Jesus Cristo pessoalmente cominava graves penas contra ele” (43, Lumen Gentium (21-XI-1964).
O primeiro ponto que precisa ser trabalhado para ter mais unidade de vida é o autoconhecimento. Saber o que acreditamos e quais os nossos princípios para que possamos vivê-los verdadeiramente. Muitas pessoas não têm critérios bem definidos e acabam sendo levadas por qualquer ideia que as apresentem e passam a ter um estilo “camaleônico” se adaptando ao cenário no qual se encontram. Em outros textos falaremos sobre a importância do autoconhecimento para crescer nossa intimidade com Deus.
Saber quais são as ideias em que acreditamos enraíza outra grande aliada da unidade de vida: a virtude da fortaleza, que se faz muito necessária. Porque, infelizmente – e está aí a falta da unidade de vida – mas além de saber os nossos princípios precisamos também defendê-los em uma situação complicadas. Para isso é preciso treinar a fortaleza. Como evitar se apresentar como católico por receio de ser taxado ou criticado. São Pedro, em uma de suas cartas, pede a todos da comunidade que sejam “fortes na fé” (I Pe 5,9).
Os mártires são grandes exemplos de pessoas fortes porque defenderam a sua fé, seus princípios de vida em épocas que o castigo era perder suas vidas. São Thomas More, por exemplo, era conselheiro do rei que morreu por não aceitar que o rei Henrique VIII tivesse o sacramento do matrimônio considerado dissolúvel pela Igreja para casar-se novamente. More era um católico leigo, que tinha esposa e filhos e um trabalho como qualquer outro, mas diante da circunstância que se encontrava, precisou lutar pelo o que acreditava e não abriu mão disso. Morreu decapitado. Apesar de ver pessoas deixando de defender seus princípios por bem menos, nós podemos ser sinais de fortaleza e, de alguma, forma ajudá-los nessa luta.
Não é fácil lutar para viver essa coerência com nossos princípios não só de fé, mas também morais. Mas ainda pior é viver sendo companheiro da covardia. Não significa sermos intransigentes, não levarmos em consideração as opiniões dos outros ou sermos fanáticos. A unidade de vida é importantíssima para todos, especialmente para nós leigos. Que estejamos nos ambientes da vida social com o olhar da fé e, assim, transformando todas as circunstâncias da vida cotidiana em presença sobrenatural de Deus e serviço aos outros.
Podemos trabalhar e melhorar este mundo mantendo o foco em Deus. Fazendo bem nossas obrigações humanas, civis e religiosas. Engajados na política, cumprindo o nosso papel familiar com responsabilidade de católicos. Sem clericalismo, mas com ideais e princípios cristãos claros.
A unidade de vida nos faz parecer mais com Cristo, Aquele que sempre foi, é e será.
Autora: Marlice