CARTA MARÇO 2019
“Orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”
(Mt 6,9)
Caro irmão, querida irmã, a paz.
“Orai assim: Pai nosso…” (Mt 6,9)
Jesus nos convida a orar, a entrar num relacionamento com Ele e, por meio d’Ele, com seu Pai. Jesus nos oferece participar de sua relação filial com seu Pai. Pelo seu Espírito (Gl 4,6), faz de nós filhos do seu Pai, filhos de fato (1Jo 3,1-2; Jo 1,12); por isso podemos chamar a Deus de “Pai nosso”. De fato, Deus nos predestinou a ser para ele filhos adotivos por Jesus Cristo, assim o quis a sua benevolência (Ef 1,5).
“Orai assim: Pai nosso, que estás nos céus” (Mt 6,9)
“… que estás nos céus” – “céus” aqui não é a mesma coisa que o firmamento, o espaço sideral, nem quer dizer que o Pai está num lugar distante ou afastado de nós. “Céus” significa aqui a maneira de Deus ser: sua Santidade, Eternidade, Majestade. Deus, nosso Pai, o Criador de tudo, não se identifica com nada criado, não se pode comparar com nada que conhecemos; como exclamava em êxtase S. Gregório de Nazianzo (século IV), rezando ao Pai: “ó tu, O além de tudo!”.
Esse Deus Celestial é nosso Pai! É Pai nosso não apenas por nos ter criado e nos manter na existência, mas por nos unir a Ele, nos concedendo, por meio de Jesus, seu Filho Único, a graça do Espírito da adoção filial (Rm 8,15): “E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! Portanto, já não és escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro; tudo isso por graça de Deus” (Gl 4,6-7).
“Pai nosso, que estás nos céus” (Mt 6,9)
É maravilhoso que esse Deus tão grande nos ame como Pai, venha a nós e nos convide, em Jesus, a um relacionamento de proximidade com Ele: “o Deus invisível, por seu imenso amor, fala aos homens como a amigos e com eles se entretém para convidá-los à comunhão consigo e nela recebê-los” (Dei Verbum, 2). A essa realidade tão alta só podemos ter acesso e responder mediante a graça da fé (Catecismo da Igreja Católica – CEC 142-143).
É verdade que, como pessoas humanas, com o poder da razão, nossa inteligência e nosso livre arbítrio, podemos chegar ao conhecimento da existência de Deus como um ser pessoal, infinito e superior. Esse conhecimento “natural”, porém, fica muito prejudicado e até comprometido tantas vezes, por causa de tantos obstáculos e dificuldades, pelos limites de nossos sentidos e por nossas más inclinações, provenientes do pecado original (CEC 37) – eis por que para tantos é tão mais difícil crer! Assim sendo, temos necessidade da graça de Deus para corrigir e purificar nossa inteligência e nossa vontade.
Ainda mais, quando se trata de conhecer os mistérios de Deus, que ultrapassam nossa razão, precisamos que Deus nos revele! Para ter acesso à revelação de Deus, ao “que está no céu”, e então podermos dizer “Pai nosso!” ou “Eu creio!”, precisamos do auxílio do Alto, dos auxílios do Espírito Santo, precisamos da graça da fé.
A Igreja ensina que a fé é, antes de tudo, graça, “um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele” (CEC 153). De fato, a Pedro, que confessara que Jesus é o Filho de Deus vivo, Jesus disse: “não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16,17). Sem a fé, não podemos conhecer de verdade quem é Jesus e tudo o que ele disse e fez; assim, sem a fé, não podemos entrar em uma comunhão de vida com Jesus e com seu Pai, o Pai nosso, nem beber de sua justiça e santidade, de sua plenitude, de sua eternidade. Por isso que Jesus disse: “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (Mc 16,15); e ainda: “Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo não para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não é julgado; quem não crê já está julgado, porque não creu no nome do Filho único de Deus” (Jo 3,17-18).
Ensina-nos também a Mãe Igreja: “Na fé, inteligência e vontade humanas cooperam com a graça divina” (CEC 155). Assim entendemos que crer é também um ato autenticamente humano, porque solicita de nós o empenho livre, total e perseverante de todo nosso ser: nossa inteligência, nossa memória, nossos afetos, nossa vontade. Sempre com liberdade, pois ninguém pode ser constrangido a crer!
Chamamos a fé de “virtude teologal”, porque ela tem em Deus sua origem (é graça!) e seu fim (a comunhão com Deus, a salvação). Fé é diferente de crença; esta é o simples acreditar em alguma coisa ou em alguém por causa das evidências reais ou imaginárias. A fé não nasce das evidências, mas é dom de Deus e resposta de acolhida à revelação que Ele nos faz em sua Palavra.
Como dom de Deus, a fé gera em nós uma resposta de adesão consciente, livre e amorosa, e nos abre já para a posse das realidades celestes: “A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera, um meio de conhecer realidades que não se veem” (Hb 11,1). Ou seja, pela fé, já nos é dado aqui na terra o que nós teremos em plenitude na visão da glória da eternidade após nossa morte. Que grande presente de Deus é a fé!
Por fim, mas não menos importante, a Igreja nos ensina que crer é um ato pessoal, mas nunca isolado. Crer é um ato eclesial, isto é, ato da Igreja, a primeira que guarda e transmite a fé: “Como a mãe que ensina seus filhos a falar e, por consequência, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, nos ensina a linguagem da fé para nos introduzir na compreensão e na vida da fé” (CEC 171).
A fé que recebemos nos foi transmitida pelo anúncio e testemunho de uma comunidade de pessoas que creem, a Igreja. Nós podemos dizer “eu creio” somente num ambiente de uma comunidade que diz “nós cremos”! Diz a Igreja: “Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. O crente recebeu a fé dos outros, deve transmiti-la aos outros” (CEC 166).
É por essa razão que nossa Paróquia reforça agora seu caminho de iniciação e aprofundamento na vida de fé em um ambiente comunitário, nas pequenas comunidades jovens e das quadras. A ti que já percorres esse caminho, coragem! Prossigamos! Se ainda não, convido-te a conhecer e provar como é bom! A fé nos liga a Deus e aos irmãos!
Neste mês de março, começaremos as obras do novo Centro Pastoral de nossa Paróquia, um grande dom para todos nós! Bendito seja Deus! Isso é possível pela dedicação e trabalho duro dos fieis que, junto com o querido Padre Jeová, ao longo de tantos anos, tornaram possível esse passo. Mas para levar a bom termo essa obra, precisamos continuar nossos esforços! Será também uma oportunidade de testemunharmos nossa fé e nosso amor por Cristo e sua Igreja, de que nossa Paróquia foi sinal desde os inícios de Sobradinho – continuemos a missão!
Iniciando a Quaresma neste mês, convido-te a percorrer mais vivamente, em tua vida pessoal e em nossa comunidade paroquial, esse caminho de graça e fé, num verdadeiro espírito de oração, penitência e conversão. Ao orarmos juntos “Pai nosso que estás nos céus…”, essa maravilhosa e divina realidade de filhos do Altíssimo, filhos no Filho Jesus Cristo, cresça em nós e entre nós.
Com Deus,
pe. júlio