Carta do Padre – Setembro 2020

O pastor das ovelhas… caminha à frente delas e elas o seguem, porque conhecem a Sua voz. (Jo 10,4)

Caro irmão, querida irmã, a paz.

Nestes tempos, um texto do Evangelho me tem falado alto: “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34). Impressiona-me o amor compassivo de Jesus e Sua clareza em enxergar a condição daquela multidão: são como ovelhas sem pastor. Sim, o amor vê bem e vê de longe! Jesus bem sabe qual é a mais profunda fome e sede daquele povo, que não é simplesmente de pão ou de água, mas de força e segurança, de verdade e liberdade, de vida e amor, fome de Deus (ler Am 8,11; Sl 63/62,2)! No livro de Ezequiel, Deus fala das ovelhas sem pastor: são fracas, doentes, quebradas, desgarradas, perdidas, sem rumo, vulneráveis, desprotegidas (ler Ez 34,1-16). Jesus veio procurar aquela gente perdida, desorientada, oprimida, que precisa ser encontrada, orientada, curada, precisa ser salva. Assim aquele povo. Assim também hoje.

Essa imagem me vem recorrente diante de tudo que estamos vivendo, diante do que vejo e escuto. Há tanta confusão nesses tempos de crise, com tantas vozes de dúvidas e contradições, de medo e insegurança, fora e dentro de nós, mostrando nossa pequenez diante da vida e nossa necessidade de uma orientação segura. Ouvimos levantarem-se vozes enganadoras da parte de tantos com o dever de informar a verdade, gerir com justiça e julgar com isenção. Corrompidos por seus interesses corporativistas, ganância de poder e supremas vaidades, usam de suas palavras “educadas” e discursos “corretos” e “democráticos”, como lobos que dispersam e atacam, mercenários que exploram e abandonam, ladrões que vêm só para roubar, matar e destruir (ler Jo 10,10-13). Mas a fé,
graças a Deus, não nos deixa abater-nos, porque nos lembra que…

O pastor das ovelhas… caminha à frente…

Sabemos bem que essa situação triste não é de hoje. A crise atual apenas ajudou a que aparecesse uma desordem já presente entre nós, quando, abandonando a verdade, passamos a compreender e a viver a realidade com base em opiniões. Ficamos assim mais sujeitos àqueles que têm o poder de argumentar, de influenciar, de pressionar. A mentalidade modernista e progressista, tão forte há tempos em nossas escolas, universidades, tribunais, em veículos dominantes de comunicação, propaga e incentiva a ruptura com a tradição de nossa sociedade e perverte os valores perenes da dignidade humana. Reparemos a proposta de vida presente em tantas leis, em ditas doutrinas “humanistas”, que desculpam e soltam o criminoso e o corrupto, mas calam e matam o inocente. Quanta perfídia! E a pretensa arte de espetáculos, filmes, séries, vídeos e músicas que fazem sucesso, com os modelos reverenciados e a visão de mundo que eles propõem! Quanto lixo! O ser humano é desfigurado, embrutecido, reduzido a um ser de instintos, carências e necessidades, um ser birrento berrando por liberdade sem responsabilidade! Quanta libertinagem! E querem
empurrar-nos goela abaixo um “novo normal”, um “novo humanismo”, que pode até um dia vir a ser comum, mas nunca será sadio, nem belo, nem bom, porque não corresponde à verdade de nossa condição humana, feita do pó, mas feita para a eternidade!

Nesse tempo em que as máscaras se tornaram parte de nossa veste, outras máscaras invisíveis e já velhas estão caindo. “Nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nada de secreto que não venha a ser conhecido” (Mt 10,26) – na sociedade e nas nossas famílias, nas comunidades e grupos de pastoral, em nós mesmos. Revelam-se a nossa compaixão, mas também nossas intolerâncias e frescuras; nossa coragem, mas também nossas indolências e preguiças; nosso amor e nossa fé, mas também nosso desamor e falta de fé. Aproveitemos, pois, esse tempo para aprender, para conhecer melhor o nosso coração e converter-nos. Esses tempos de crise podem revelar se encaramos a realidade a partir da fé provada e comprovada, ou se ignoramos e relativizamos a autoridade da Palavra de Deus e preferimos acreditar e apoiar-nos na inconsistente e insensata opinião dos “sábios deste mundo” (ler 1Cor 1,18-31). Se, esquecendo-nos da verdade de Deus, acabamos por formatar nossa mentalidade a partir de raciocínios vãos e mentirosos, dos interesses fúteis e egoístas do nosso coração impenitente (ler Rm 1,21-32). Uma existência assim é presa das trevas e leva ao nada (ler Ef 4,17-24). Despertemos! Qual voz estamos seguindo? Abramos o ouvido à voz do Bom Pastor!

Elas o seguem, porque conhecem a Sua voz.

Precisamos da voz do Bom Pastor para nos guiar (ler Sl 22/23). Ele nos ama, se importa conosco, não nos abandona (ler Jo 10,11). Ele vem ao nosso encontro como Verdade, justamente porque precisamos ser libertados da mentira e da escravidão do pecado (ler Jo 8,34-36.42-45; 14,6; Gl 5,1). Repare a resposta primeira de Jesus diante das ovelhas sem pastor: Ele ensina! Ele nos abre aos tesouros do Seu conhecimento e de Sua graça, comunicando-nos a verdade libertadora, atraindo-nos para o Seu Pai (ler Jo 8,31-32; Sl 35/36,9-11), e saciando a nossa mais profunda fome e sede (ler Jo 6,35.51-53; 7,37-38).

Elas o seguem, porque conhecem a Sua voz.

Importa conhecer Jesus no meio de nós: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Importa ouvir a voz de Jesus, pois não há outro caminho que nos leve à Verdade, não há outro guia para nos conduzir à Vida (ler Mt 11,25-27; 23,10; Jo 14,6-11). Importa seguir a Jesus vivo, operante, misericordioso em Sua Igreja, apesar da fraqueza dos discípulos e dos pecados dos pastores que Ele chamou – o Senhor sabe trabalhar com nossa pobreza e imperfeições. Acolhamos, portanto, a ajuda do Bom Pastor e ajudemo-nos uns aos outros, hoje e sempre, na certeza de que Ele nos acompanha de perto, nos alimenta e nos cerca de cuidados (ler Ef 5,29-30). Aproximemo-nos todos juntos d’Ele, sempre disposto a nos receber, nos ensinar e curar (ler Mt 11,28-30; 13,10-17; 14,13-21). Sua voz não engana. Sua voz não erra. Sua voz não confunde. Sua voz fortalece e acalma o coração. Sua voz traz lucidez e coragem. Sua voz nos guia e nos salva!

Elas o seguem, porque conhecem a Sua voz.

Que o Bom Pastor coloque à frente da Igreja de Brasília um bispo segundo o Seu Coração. E obrigado a ti, caro irmão, querida irmã, pelo trabalho e doações em prol da construção do Centro Pastoral e do Campanário da nossa Paróquia – eles serão em Sobradinho um sinal de nossa resposta de fé e louvor a Deus. Não desanimes. Há ainda bastante a fazer.

Prossigamos! O Amor de Cristo nos uniu! Em Cristo, Pe. Júlio.

 

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Carta do Padre – Setembro 2020