“Eu estou no meio de vós como aquele que serve”
(Lc 22,27)
Caro irmão, querida irmã, a paz.
E se esta for minha última quaresma? Pensei eu ao iniciar esta carta. Por graça do Senhor, não me veio ao coração nenhum medo ou desolação, mas sim um sentimento de urgência e gratidão. Sim, o Senhor nos deu o tempo como dom para encontrar a Ele, para escutá-lo e conhecê-lo; em uma palavra: para nos converter, mudar nossa vida, reconciliar-nos com Deus (ler Mc 1,15; 2Cor 5,14-21)! Tudo isso porque Ele nos ama: eis a razão pra nossa gratidão (ler Sl 136/135,1-3)! Todo tempo de nossa vida nos é dado para isso. O tempo da conversão é o hoje, o agora (ler 2Cor 6,1-2)! A Mãe e Mestra Igreja, em sua sabedoria, nos favorece um tempo especial para nos darmos mais conta da beleza e da urgência da conversão e para nos exercitarmos mais nela: o tempo quaresmal.
A quaresma é tempo de graça de conversão e penitência, quer dizer, um tempo de maior exercício nas virtudes, de treinamento para o crescimento em nós do bem, da justiça e da santidade. Sim, a vida cristã não é apenas vencer o mal, abandonar o pecado, desmascarar as mentiras, eliminar as desordens; é também, e sobretudo, crescer no bem, abrir-nos para a graça, sermos libertados pela verdade (ler Jo 8,31-36), sermos enriquecidos com o que é bom, belo e verdadeiro (ler Fl 4,8-9). Por isso, longe de ser um tempo triste, a quaresma nos traz uma alegria discreta e pacífica, a alegria e quem descobriu um tesouro pelo qual vale a pena fazer sacrifícios e mesmo deixar tudo (ler Mt 13,44-46; 1Cor 9,25). Cristo é o verdadeiro tesouro que se deixa encontrar!
Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).
Sim, Ele está no meio de nós! Nós proclamamos isso a cada missa. Ele está no meio de nós como servidor cheio de misericórdia. Vamos contemplar seu serviço de amor e salvação nos textos da Escritura que nos visitarão na liturgia da Quaresma: servindonos o exemplo e as armas para vencer o Tentador (Mt 4,1-11; ler Ef 6,10-20); servindo-nos a consolação do seu rosto transfigurado e resplandecente como o sol (Mt 17,1-9); servindo-nos a verdadeira fonte que sacia nossa sede (Jo 4,5-42); servindo-nos a cura das cegueiras, que nos fecham à sua luz (Jo 9,1-41; ler Jo 8,12); servindo-nos, enfim, a vida que vence a morte, e de um modo bem superior e excelente do que como com Lázaro (Jo 11,1-45; ler Jo 6,47-58).
Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).
Jesus continua entre nós sua obra de salvação, seu serviço de amor. Ele o faz hoje de um modo ainda mais maravilhoso, pois ele está junto do Pai intercedendo por nós e, assim, pode estar sempre no meio de nós, em todo lugar, quando nos reunimos por seu amor (ler Rm 8,31-34; At 2,42-47)! Vivamos esse tempo de graça abrindo-nos também a essa dupla dimensão da vida em Cristo: a comunidade e o serviço.
Comunidade e serviço. Jesus quer encontrar-nos na oração pessoal, na solidão de nossa intimidade aberta à sua graça; mas manifesta sua decisão de encontrar-nos também juntos: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20); “eu estou no meio de vós” (Lc 22,27). Comunidade e serviço. Reunamo-nos, pois, em seu nome, isto é, por causa dele e do jeito que ele quer e nos ensinou, para escutar e aprender seus ensinamentos (ler Mc 4,10-11), para cuidarmos uns dos outros no amor mútuo (ler Jo 13,34-35), enfim, para o seu serviço (ler Jo 13,12-15; Mt 25,34-36). Comunidade e serviço. As pequenas comunidades das quadras e possíveis novos pequenos núcleos de comunidade são um imenso dom em nossa Paróquia para vivermos essa graça: Jesus Salvador e Servidor no meio de nós!
Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).
Comunidade e serviço: duas graças para a conversão e o crescimento na fé do seguidor de Jesus. Comunidade e serviço: duas graças a nos fazer encontrar a Cristo, que se oferece a nós como Servidor no meio de nós. Esta é uma decisão dele: encontrarnos juntos e servir-nos! Aprendamos com Ele, façamos também como Ele (ler 1Jo 2,6). Vivamos em comunidade, sirvamos em comunidade, pois todo discípulo bem formado será como seu mestre (ler Lc 6,40). Se tu já pertences a uma pequena comunidade, continua firme, progride ali na fé e no amor. Se ainda não experimentas o dom de ser parte de uma pequena comunidade, não tenhas medo de dar esse passo e aprofundar a tua vida cristã junto a irmãos e irmãs de fé. Ali, na pequena comunidade, nos encontramos em nome de Jesus Cristo, como Sua Igreja, e Ele se faz presente:
Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).
Comunidade e serviço. É Ele mesmo que, inspirando e sustentando o trabalho de tantos irmãos e irmãs na nossa Paróquia, serve e cuida de tantos… E, se por acaso, ainda não experimentas a alegria de servir na comunidade, encoraja-te, apresenta-te e põe-te disponível! Por meio de tantos, o serviço do próprio Senhor se atualiza e se realiza entre nós! Nossa gratidão e empenho em fazer parte desse imenso dom de viver e servir em comunidade de irmãos e irmãs com quem compartilhamos a fé e o amor a Cristo – aproveitemos enquanto nos é dado o dom do tempo!
Nesta Quaresma, não deixemos passar as oportunidades de penitência para libertar-nos dos caprichos, dos egoísmos, das vaidades, das preguiças. É tempo para exercícios como a oração pessoal e em comunidade, o estudo da fé, o jejum, pequenos sacrifícios como as abstinências (por exemplo, do açúcar, ou do famigerado cigarro, do álcool…). Quem sabe, descobrimos que, sim, podemos viver bem melhor e de modo mais sadio e justo sem tantas coisas que entulham o nosso corpo e nossa alma. E, assim, usaremos com mais inteligência e justiça o nosso tempo para o que realmente importa: nossa família, nossos amigos verdadeiros, nossa saúde, nosso crescimento na vida em Deus. Também não deixe de preparar-se bem para uma boa confissão sacramental antes da Páscoa, como a Igreja ensina. Lembro que temos mutirões nas Paróquias de Sobradinho a partir do dia 10 de março – na nossa Paróquia será dia 17, a partir das 20h.
Prossigamos! O Amor de Cristo nos uniu! Em Cristo, Pe. Júlio.