Carta do Padre – Maio 2020

“Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.”
(Jo 14,18)

“Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, que permanecerá convosco para sempre. É ele o Espírito da verdade, aquele que o mundo é incapaz de acolher, porque não o vê e não o conhece. Quanto a vós, vós o conheceis, pois ele permanece junto de vós e está em vós. Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.” (Jo 14,15-18).

Caro irmão, querida irmã, a paz.

Não vos deixarei… Essa promessa de Jesus aos seus é já o cumprimento daquela palavra de Deus que ressoa desde o Antigo Testamento: “Sede fortes e corajosos, não temais, não tremais diante deles, pois é o Senhor, teu Deus, quem caminha contigo: ele não te deixará, não te abandonará” (Dt 31,6); “Estarei contigo; eu não te faltarei, não te abandonarei” (Js 1,5); “Sião dizia: ‘O Senhor me abandonou, meu Senhor me esqueceu!’. Porventura a mulher esquece a sua criança de peito, esquece de mostrar sua ternura ao filho da sua carne? Ainda que elas os esquecessem, eu, eu não te esquecerei!” (Is 49,14-15); “Pai e mãe me abandonaram… O Senhor me recolhe!” (Sl 27/26,10).

Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.

Na verdade, em toda a história humana, a fé encontra o testemunho do amor imenso, fiel e cheio de ternura do Senhor Deus por nós. Ele se ofereceu ao povo como seu Deus, Deus próximo, Deus presente, Deus fiel (ler Ex 6,7; Sl 118/119,151; Sl 144/145,18; Dt 7,9)! E chegado o tempo anunciado e preparado por Ele para nossa salvação (ler Gl 4,4-7), esse amor fiel e salvador revelou-se de modo pleno e definitivo (ler João 1,18; Hb 1,1-2; 1Jo 4,9): o próprio Filho de Deus, o Verbo Eterno, veio a nós em nossa condição humana, realizou sinais e prodígios, sofreu, morreu e ressuscitou (ler João 1,14; At 2,22-24). Subindo à direita do Pai, introduziu nossa humanidade em seu Reino de glória, de vida e luz (ler Cl 1,12-13; 3,1-2; Ef 2,6), mas não ficou longe de nós, permanecendo para sempre junto dos seus (ler Mt 28,20).

Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.

Jesus Cristo, o Filho de Deus, entrou no mundo para ficar conosco e nunca mais nos deixou. Ele permanece conosco de verdade, não apenas como uma lembrança do passado em nossa memória ou como um sentimento em nosso coração, tal como acontece com relação aos nossos queridos que já partiram desta vida. Não! Por sua ressurreição dentre os mortos, Jesus está vivo para sempre, em corpo e alma (ler Lc 24,36-43)! Seu corpo humano entrou na eternidade e, cheio de glória, não sofre mais os limites do espaço e do tempo (ler João 20,19; 1Cor 15,42-43); por isso, Ele pode estar pessoalmente presente onde Ele queira, aqui, aí, acolá, real, simultânea e instantaneamente.

Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.

Essa presença real de Jesus entre nós só pode ser reconhecida neste mundo pela graça da fé (ler Rm 5,1-2; Ef 2,7-8; 3,12). Somente pela fé é que podemos também abrir-nos à Sua ação salvadora, que, assim como nos apóstolos, gera em nós uma mudança pascal: de medrosos, faz-nos corajosos! De pusilânimes, diligentes! De tristes, alegres! De tímidos, fortes! De mortos, vivos no Senhor! Tudo isso é dom do Espírito Santo, a Pessoa Dom, o Paráclito, o Defensor, o Consolador, que o Filho rogou ao Pai nos desse: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, que permanecerá convosco para sempre” (Jo 14,15).

O mesmo Espírito Santo que fez vir o Filho de Deus como homem no seio imaculado da Virgem Maria (ler Lc 1,34-35) é quem hoje continua fazendo Jesus presente e vivo em Sua Igreja em favor da humanidade toda. Como em Maria, o Corpo de Jesus é continuamente formado no seio da Igreja, naqueles que a Ele são integrados como Seus membros vivos! Ele está no meio de nós! Somos membros do seu Corpo! Nós estamos n’Ele e Ele está em nós! É o próprio Jesus quem o diz: “conhecereis que eu estou no meu Pai e que vós estais em mim e eu em vós!” (Jo 14,20). Isso é dom da presença e ação do Espírito Santo na Igreja, em nós!

Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.

Neste tempo pascal, a liturgia da Igreja nos dá escutar o livro dos Atos dos Apóstolos. Aí vemos o testemunho da ação do Espírito Santo na comunidade dos discípulos de Jesus. É uma ação santificadora, encorajadora, formadora, mais ainda, performadora, porque não apenas instrui os discípulos, mas imprime neles a imagem de Cristo, comunica-lhes a própria vida de Cristo, para torná-los outros “cristos”. Movidos pelo Espírito, os discípulos prolongam pelo mundo os prodígios de Jesus, o Senhor e Salvador, no anúncio de Seu Evangelho, no testemunho de Seu amor, compaixão e perdão, nos sinais de justiça, paz e santa alegria do Seu Reino (ler Rm 14,17). Desse modo o Cristo manifesta ao mundo a sua presença no meio dos seus, o seu amor e fidelidade, a sua obra redentora que nos faz irmãos da família em que Seu Pai é nosso Pai (ler João 20,17; Ef 2,18-19).

Não vos deixarei órfãos, eu virei a vós.

Precisamos tanto do Espírito Santo! Sem Ele, nada do Cristo acontece em nós! Com Ele, Cristo está entre nós e em nós, e nós estamos em Cristo! Que bom que nossas comunidades aproveitem este tempo para acolher o dom do Espírito Santo, para pedir sua ação santificadora e transformadora em nós: Veni Creator Spiritus! Vem, Espírito Criador! – é a oração da Igreja em todo tempo, sobretudo neste que precede Pentecostes. Vem, Espírito, cria em nós uma nova mentalidade, libertada pela Verdade! Vem, cria em nós um novo coração, purificado pelo Amor. Vem, cria em nós uma nova memória, habitada pela Palavra! Vem, cria em nós novos afetos, unidos aos sentimentos de Jesus Cristo (ler Fl 2,5). Vem, faz de nós pessoas novas (ler Rm 6,4; 2Cor 5,17). Vem, faz de nós comunidades novas, uma Paróquia nova, n’Aquele que faz novas todas as coisas (ler Ap 20,1-7)!

Neste mês mariano, olhamos para Maria, Mãe de Deus e nossa. Ela, toda de Deus, toda habitada e movida pelo Espírito, é para nós inspiração e ajuda nesse caminho de renovação da vida, segundo os projetos do Senhor, na abertura ao dom da Páscoa do seu Filho. Confiamo-nos aos cuidados e intercessão dela para permanecermos juntos na fé e no amor e, como os Apóstolos no Cenáculo, sermos abrasados pelo Espírito Santo e por Ele movidos ao anúncio e testemunho do Cristo, presente no meio de nós – Ele não nos deixou!

Prossigamos! O Amor de Cristo nos uniu! Em Cristo, Pe. Júlio.