Fazei isto em memória de mim.
(Lc 22,19)
Caro irmão, querida irmã, a paz.
Em fevereiro eu propus para a nossa Paróquia, como palavra inspiradora de nossa contemplação e ação ao longo de 2020, aquela promessa de Jesus: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali no meio deles” (Mt 18,20). Essa declaração de nosso Senhor é um convite d’Ele a vivermos unidos em Seu Nome e, como comunidade de fé, acolhermos o dom de Sua presença viva entre nós. Pretendíamos, então, fortalecer as pequenas comunidades da nossa Paróquia e atrair outras pessoas para a imensa riqueza que é a vida em comunidade, para alimentar, aprofundar e testemunhar a fé, na experiência de Jesus “ali no meio”. E aí chegou essa pandemia, exigindo distanciamento social e atrapalhando nossos planos iniciais… Mais do que nunca, porém, essas palavras de Jesus revelam sua força – mesmo se não é possível aglomerar: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali no meio deles!” E como é bom ver as iniciativas entre nós para esses tempos, como os encontros por vídeo-conferência, as “lives”, as partilhas de dons espirituais e materiais, testemunhando nossa decisão em continuar a viver a fé juntos, no amor a Nosso Senhor e no serviço uns aos outros, enquanto esperamos o retorno aos encontros presenciais.
No nosso planejamento, nós tínhamos agendado missas às sextas-feiras nas quadras, para que ali, nas casas onde os irmãos e irmãs semanalmente já se reuniam, a presença real de Jesus se manifestasse também sacramentalmente pela Eucaristia. Sim, junto com a escuta da Palavra de Deus é importante acolher a graça do sacramento, porque Aquele que se faz presente entre dois ou três reunidos em Seu Nome é o mesmo que veio na carne (ler Jo 1,14; 1Jo 4,2; 1Tm 3,16) e que nos salva e nos alimenta com Sua carne (ler Jo 6,51-56). Sim, Cristo quis estar presente em sua Igreja, de modo muito especial e excelente, nos sinais do Seu Corpo e Sangue Eucarísticos (ler Jo 6,57-58; Lc 24,30-31). Sim, queremos acolher a Cristo de todos os modos como Ele, em Seu Amor, quis permanecer entre nós e por nós:
Fazei isto em memória de mim…
Cristo quis dar-se a nós e ficar presente entre nós, em sua Igreja, como Eucaristia. Esse é um dom maravilhoso pelo qual Jesus nos faz entrar em comunhão consigo, numa união física, moral e espiritual, em razão da Sua presença real, concreta e substancial no Pão consagrado. Isso quer dizer que a comunhão com Jesus eucarístico não é apenas uma união afetiva, emocional ou pela força de nossa intenção, mas é, por Sua graça, uma união verdadeira entre Ele e nós: uma união de sua divindade e humanidade com a nossa humanidade, união de Sua inteligência e vontade com a nossa inteligência e vontade, união de Seu amor e liberdade com o nosso amor e liberdade. De tal modo é essa comunhão que transforma os que dela participam: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E por isso Ele diz:
Fazei isto em memória de mim…
Essa ordem de “fazer isso” significa, em primeiro lugar, a autoridade e o mandato que Jesus dá aos Apóstolos para realizar a Eucaristia na Sua Igreja até que Ele venha. Ele assim instituía o sacerdócio ministerial, vocação daqueles homens que, na Pessoa de Cristo, são chamados e consagrados para atualizar o único sacrifício redentor pelo qual o Filho de Deus, nosso Salvador, nos deu o perdão dos pecados e a vida eterna. Mas esse “fazer isso” se dirige, de modo essencialmente diferente mas não menos belo e grande, a todos os homens e mulheres que, pelo batismo, são incorporados a Cristo e chamados a participar, por Ele, com Ele e n’Ele, da oferenda que Ele próprio faz ao Pai da própria vida. É o que chamamos de “sacerdócio comum” dos cristãos.
Por esse “sacerdócio comum”, os fieis batizados podem oferecer, como sacrifício vivo a Deus, seus trabalhos, suas lutas, seus cansaços, alegrias e esperanças, vividos em união a Cristo. Como diz S. Paulo: “Eu vos exorto, irmãos, em nome da misericórdia de Deus, a vos oferecerdes vós mesmos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este será o vosso culto espiritual” (Rm 12,1). Assim, na diversidade das vocações, os ministros ordenados (os homens que receberam o sacramento da Ordem para o serviço do Povo de Deus: bispos, padres e diáconos) bem como os fieis leigos, os religiosos e as religiosas, são chamados todos, pela comunhão com Jesus, o Pão Vivo, a viver uma vida eucarística, como portadores e testemunhas de Cristo para o mundo.
Fazei isso em memória de mim…
Aprofundamos assim o sentido da nossa participação na Santa Missa, o sentido desse “Fazei isso em memória de mim”. Não é apenas executar o rito cerimonial, dizer palavras e entrar na fila de comunhão, às vezes até distraídos, despreparados ou irreverentes. Na missa, nossa vida, feita oferenda, é unida à entrega de Jesus ao Pai e já começamos a fazer parte dos dons de sua vitória pascal. Mistério imenso e maravilhoso! Pela Eucaristia, aprofundamos também o sentido de ser comunidade: assembleia reunida no Nome d’Aquele que escolheu estar no meio de nós e unir-Se a nós pessoalmente, o Cristo Senhor, pela comunhão com Seu Corpo-Eucarístico em Seu Corpo-Igreja.
Neste mês a Igreja no Brasil celebra e anuncia a beleza do chamado que o Senhor nos faz à santidade, ao serviço da caridade e ao testemunho da fé. Agradecemos ao Bom Deus pela riqueza de dons e vocações com que Ele tem cumulado nossa Paróquia, ao longo dos seus já quase sessenta anos. Prossigamos! Ainda há muita história a escrever: muita Eucaristia a celebrar e viver, muito anúncio do Evangelho por fazer, muita missão a realizar; há ainda muitas famílias a constituir e consolidar, muitas vidas consagradas a ser postas a serviço da Igreja e da humanidade: sacerdotes, diáconos, religiosas e religiosos, monges, monjas… Somos chamados a ser família de Deus, Igreja que é Una, Santa, Católica e Apostólica. Discípulos de Jesus, alimentados por Sua Palavra e por seu Corpo e Sangue, somos chamados a ser homens e mulheres adultos na fé, jovens e crianças crescendo em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens, filhos e filhas devotos da Mãe de Deus e nossa, a Virgem Senhora do Rosário de Fátima.
Oremos para que o Senhor da messe nos envie um pastor segundo o Seu Coração: Ó Deus, Pastor Eterno, que governais o vosso rebanho com solicitude constante, no vosso amor de Pai concedei à Igreja de Brasília um pastor que vos agrade pela virtude e vele solícito sobre nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Amém. Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós.
Prossigamos! O Amor de Cristo nos uniu! Em Cristo, Pe. Júlio.