“Eu estou convosco todos os dias…”
(Mt 28,20)
Caro irmão, querida irmã, a paz.
Começamos o mês com o respiro de Pentecostes, quando o Espírito Santo manifestou Sua força amorosa de salvação na pregação e nos sinais dos Apóstolos. Ali a Igreja iniciava a missão confiada por seu Senhor, Jesus Cristo, de anunciar o Evangelho ao mundo inteiro, de fazer de todas as nações discípulos Seus, de batizar em nome da Trindade, de ensinar, de celebrar a fração do Pão (a Eucaristia), de perdoar em Seu nome, enfim, de ser Seu sinal e instrumento de Seu amor e salvação, ser Sua presença e ação no mundo (ler Mt 28,18-20; Mc 16,15; Lc 10,16; Lc 22,19-20; Lc 24,44-48; Jo 20,21-23). A Igreja, pelo dom do Espírito Santo, torna Jesus verdadeiramente presente conosco todos os dias.
Eu estou convosco todos os dias…
Jesus quer estar conosco, perto de nós, todos os dias, porque nos ama, porque sabe que precisamos dele: “pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Com Jesus, porém, podemos fazer muitas coisas (ler Fl 4,13), podemos fazer até coisas maiores do que aquelas que Ele mostrou: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, pois eu vou para o Pai” (Jo 14,12). Sim, nós estamos juntos do Pai na pessoa de Jesus e, unidos a Ele, participamos de tudo o que é d’Ele – Sua glória, Sua liberdade, Sua sabedoria, Seu amor, Sua vida divina – e nos é dado realizar Suas obras! Esse mistério é grande! Jesus se fez uma só carne com Sua Igreja (ler Ef 5,30-32). Por meio da Sua Igreja, com ela e nela, Jesus continua Sua ação salvadora, prolonga Sua presença cheia de graça, de amor e verdade. Por isso precisamos da Igreja, precisamos ser Igreja, porque precisamos de Jesus.
Eu estou convosco todos os dias…
Esta também é a ação maravilhosa do Espírito Santo: unir-nos a Cristo todos os dias. É uma união de verdade, não só uma companhia exterior, lado a lado, mas mudando-nos por dentro, numa identificação mútua, Ele em nós e nós n’Ele (ler Jo 15,4.7; 17,21-23), como testemunhou S. Paulo: “eu vivo, mas não sou mais eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Pela ação do Espírito Santo, os discípulos de Jesus são também unidos entre si num só Corpo, o Corpo de Cristo, a Sua Igreja (ler 1Cor 12,12-13.27; Ef 1,22-23; Cl 1,18.24; Mt 16,18-19). É interessante ver como essa consciência do vínculo entre Cristo e Sua Igreja, entre o Espírito Santo e a Igreja, os cristãos a tiveram desde o início. Olha só alguns testemunhos: “Onde está Cristo Jesus, está a Igreja Católica” (S. Inácio de Antioquia, século II); “Com efeito é à própria Igreja que foi confiado o Dom de Deus. É nela que foi depositada a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor da incorruptibilidade, confirmação da nossa fé e medida de nossa ascensão para Deus. Pois lá onde está a Igreja, ali está também o Espírito de Deus; e lá onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda a graça” (S. Ireneu, século II); “A Igreja é o local onde floresce o Espírito” (S. Hipólito, século II); “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens, e se chama Igreja” (S. Clemente de Alexandria, século III).
Eu estou convosco todos os dias…
O Espírito Santo realiza essa promessa de Jesus trazendo-O para junto de nós, por meio da Igreja, todos os dias e de muitos modos. Quero destacar aqui um modo de presença de Jesus que Ele próprio quis ressaltar: a Santa Eucaristia. Disse Jesus: “Eu sou o pão vivo que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade. E o pão que eu darei é a minha carne, dada para que o mundo tenha a vida” (Jo 6,51).
De fato, Jesus, que disse ter vindo ao mundo para que todos tenham vida, e vida em abundância (ler Jo 10,10), realizou essa Sua missão dando-nos Sua própria vida na cruz. Ele mostrou, na última ceia, que fazia parte de Sua missão deixar presente no mundo o memorial, isto é, a atualização dessa Sua entrega de amor e salvação. Eis o mistério da fé! Eis o mistério do amor de Deus! Eis o mistério da Eucaristia! É o próprio Jesus, no mesmo e único sacrifício redentor, quem nos oferece em comunhão o Seu Corpo e Sangue como alimento, como comida e bebida, como sacramento, para que Ele permaneça em nós e nós n’Ele, todos os dias, como Ele disse que faria. Lembramos o que Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,53-54). E para quem achava que Ele estava usando apenas um simbolismo ou comparação, Ele continua: “Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,55-56).
Eu estou convosco todos os dias…
Quanta maravilha, que faz até aos próprios anjos se admirarem! O Filho de Deus em nós, Seu Corpo em nosso corpo, Sua Alma em nossa alma, unindo-Se a nós pela graça de Seu sacramento! Sabemos que muitos deixaram de seguir a Jesus logo após essas Suas palavras, por lhes parecerem duras demais. Até hoje o mistério da Eucaristia escandaliza a muitos, e outros lhe são tão indiferentes, também entre nós católicos! Jesus reafirma o realismo e a necessidade da Eucaristia e confia à Sua Igreja a missão de realizá-la por todo tempo em todo mundo: “Fazei isto em memória de mim!” (Lc 22,19).
Eu estou convosco todos os dias…
Jesus quis estar conosco todos os dias de modo maravilhoso na Eucaristia. Ele sabe que precisamos d’Ele, que precisamos d’Ele em nós: a Eucaristia é Sua resposta de amor. Esses tempos de pandemia, em que tantos ficaram privados de receber Jesus Eucarístico, estão sendo realmente uma grande provação. Como em toda prova da vida, podemos ter a fé comprovada e o amor amadurecido, ou tê-los enfraquecidos ou mesmo mortos ((ler Tg 1,2-8.12; 1Pd 1,6-9; Ap 2,4)! Que a falta da Eucaristia desperte a certeza de quanto precisamos dela para nossa salvação e santificação. Desperte também a consciência da urgência de uma vida em comunhão com Cristo, não uma comunhão virtual ou intencional, mas uma comunhão real e física com a carne d’Ele, que deixe marcas na nossa carne, na nossa vida concreta, nos relacionamentos, no trabalho, no descanso, em tudo enfim. A Igreja não é uma ONG, como insiste em dizer o Papa Francisco, não é um grupo, entre muitos, de gente de boa vontade que faz ações de caridade no meio do mundo. A Igreja é o Corpo de Cristo, porque, alimentada de Seu Corpo Eucarístico, vive por Ele, com Ele e n’Ele. A Igreja, Corpo de Cristo, nascida do Espírito Santo, é movida por Ele para ser Sua presença eficaz no mundo, “para a vida do mundo” (Jo 6,51), no tempo, todos os dias, até a eternidade.
Prossigamos! O Amor de Cristo nos uniu! Em Cristo, Pe. Júlio.