Carta do Padre – Novembro 2019

Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal

Caro irmão, querida irmã, a paz.

Quando somos batizados, o ministro unge o nosso peito e diz: “Que a força de Cristo penetre em tua vida como este óleo em teu peito”. É um gesto bíblico, significando a força de Deus que prepara o guerreiro para a luta. Desde cedo se anuncia esta verdade: nossa vida neste mundo é um combate! Não uma luta uns contra os outros – e queira Deus acabem entre nós as ridículas rixas, desconfianças e competições. Tampouco é apenas aquela luta na superação das dificuldades. S. Paulo nos ensina: “Revesti-vos da armadura de Deus para estardes em condições de enfrentar as manobras do diabo. Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que povoam as regiões celestiais” (Ef 6,11-12)

As duas últimas petições no Pai-nosso nos lembram esse combate que, pessoalmente e como Igreja, enfrentamos contra o Mal, o Tentador. Rezamos assim em comunhão com Jesus, nosso Intercessor, que disse ao Pai: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). Sobre o Maligno assim ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Neste pedido, o mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o maligno, o anjo que se opõe a Deus. O ‘diabo’ (diabolos) é aquele que ‘se atira no meio’ do plano de Deus e de sua ‘obra de salvação’ realizada em Cristo” (CIC 2851). O Tentador é uma criatura que rejeitou a paternidade de Deus, sua autoridade e seu amor; e, em seu ódio sem fim, ele se empenha em levar-nos a fazer o mesmo.

Não nos deixes cair em tentação…

A tentação é sempre uma sugestão mentirosa que vem à nossa consciência, propondo algo aparentemente atraente, mas que, na realidade, é algo mau, que envenena e mata, ainda que aos pouquinhos. Daí a importância da vigilância na oração e do discernimento da fé, para, atentos, não nos deixarmos enganar.

Não nos deixes cair em tentação…

Todos os seres humanos estão sujeitos à tentação. Até Jesus foi tentado, não porque houvesse nele qualquer inclinação para o mal, mas porque não depende de nós sermos tentados – mas depende de nós a resposta: consentirmos ou não! Com a graça de Deus, podemos resistir à tentação, e assim crescemos na virtude. Quando caímos na tentação, rejeitamos o plano de Deus, escolhemos o mal, tornando-nos maus, injustos, escravos e infelizes.

Livra-nos do Mal…

A vitória no combate contra o Mal é possível somente com a graça do Senhor, Deus Todo Poderoso. Daí a insistência da Igreja quando, em suas orações, refere-se ao seu Senhor como o Todo Poderoso, ensinando-nos que Ele é bom e forte, que exerce seu poder em nosso favor, para libertar-nos: “em tudo isso, somos mais que vencedores, por Aquele que nos amou” (ler Rm 8,31-39).

Livra-nos do Mal…

Diz ainda o Catecismo: “Ao pedir que nos livre do mal, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais o maligno é autor e instigador. Neste último pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a graça de esperar perseverando o retorno de Cristo. Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que detém ‘as chaves da Morte e da Morada dos mortos’ (Ap 1,18), ‘aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso’ (Ap 1,8)” (CIC 2854).

Não nos deixes cair em tentação… Mas livra-nos do Mal…

Nesse combate, o Senhor luta por nós e conosco. Nesse combate, nós precisamos assumir um lado, e combater! Para esse combate, S. Paulo nos apresenta as armas espirituais de que precisamos (ler Ef 6,10-20). No Apocalipse lemos: “Eis o tempo da salvação, da força e do Reinado do nosso Deus e do poder do seu Cristo: porque foi derrubado o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava dia e noite diante de Deus. Mas eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra da qual deram testemunho: pois não amaram a própria vida a ponto de temer a morte” (Ler Ap 12,7-11). “Nossos irmãos… venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra…” – a Eucaristia e a Palavra! Cristo Eucarístico, Cristo Palavra, oferecido aos irmãos! Eis a vitória, pela fé, sobre o Acusador, sobre a tentação, sobre o Mal. Vemos assim por que a vida da Igreja gravita em torno desses dois imensos dons, a Eucaristia e a Palavra, que são, em realidade, o único Cristo Vivo, Filho de Deus, presente entre nós, sua Igreja, como ele prometeu (Mt 28,20; Jo 6,53-56; 1Jo 2,14).

Combatamos juntos! Na missa, na oração em comum, na vivência fraterna, nos serviços, no bazar, na construção do Centro Pastoral, no caminho para as assembleias paroquial e arquidiocesana… Onde dois ou três estiverem reunidos em nome de Jesus – em seu Corpo, em sua Palavra -, Ele está no meio deles (Mt 18,20)!

Com Deus. Pe. Júlio.