Carta Junho 2019 – “Seja feita a tua vontade…” (Mt 6,10)

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“Seja feita a tua vontade…”
(Mt 6,10)

Caro irmão, querida irmã, a paz.

Desde cedo, quando aprendemos a rezar, acostumamo-nos a pedir: “Senhor, faz isso por mim! Senhor, realiza minha vontade!”. No Pai Nosso, Jesus nos ensinou a desejar e pedir por primeiro o querer do Pai:
“Seja feita a tua vontade” .

Quando batizados, somos unidos a Cristo, incorporados a Ele, participamos do mistério do seu “batismo”, da sua Paixão e Cruz. Ali Jesus assume o nosso lugar de pecadores e, por sua obediência até a morte, vence a ruptura que nós, filhos de Adão, estabelecemos com o Pai por nossa desconfiança e desobediência. Por sua união com a vontade do Pai, Jesus nos alcançou o perdão dos nossos pecados e a reconciliação com Deus, nosso Criador! Tudo isso com a sua entrega total de Filho, com o seu abandono confiante: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua!” (Lc 22,42). Ser filho do Pai em Jesus e com Jesus, nos faz dizer como Ele:

“Seja feita a tua vontade” .

Jesus vive em perfeita comunhão com o Pai: “Tudo o que é meu é teu; tudo o que é teu é meu” (Jo 17,10). Ele ama o Pai e conhece o Pai; sabe que é bom tudo o que o Pai quer e faz, mesmo quando dói… Jesus confia-se inteiramente ao Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). O que o Pai quer, Jesus quer: “Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7; ler João 4,34; 5,30). O amor que Jesus manifesta pelo Pai e por nós não é um amor só com palavras e de boca, mas com ações e em verdade (1João 3,18). Assim Ele nos ensina e nos convida a fazer também, pois não basta dizer “Senhor, Senhor!”: é preciso fazer a vontade do Pai (ler Mateus 7,21)!
“Seja feita a tua vontade” .

Ao pedirmos “seja feita a tua vontade”, abrimo-nos à vitória de Jesus sobre aquela desordem que há em nós e que nos faz desconfiar de Deus e duvidar de que Ele nos ama e quer o melhor para nós. Essa desconfiança, leviana e orgulhosa, nos leva a desobedecer a Ele, fazendo-nos preferir nossos planos aos planos d’Ele, nossa vontade à vontade d’Ele. Tamanha insensatez! Terrível loucura que nos cega e afasta d’Aquele que nos ama! Jesus, nosso Salvador, nos ensina o remédio para essa “doença”, com sua vida e oração: “Seja feita a tua vontade” .
Não tenhamos desconfiança da vontade do Pai para nós! Como filhos que conhecem o Pai e seu imenso amor (ler Ef 2,1-10), não fazemos sua vontade por medo da punição, mas porque a fé e o amor nos convencem de que a vontade do Pai, mesmo quando nos custa, é sempre boa, é sempre amor, é sempre vida (ler João 6,38-40; 1Tm 2,3-4; 1João 2,17)! Fazer a vontade do Pai, mesmo quando nos custa, mesmo quando não entendemos, é nossa resposta de acolhida da paternidade de Deus sobre nós, unindo-nos a Jesus, o Filho Obediente, no mesmo Espírito Santo (ler Mt 12,50).

Gostaria de lembrar algo importante que S. Tomás de Aquino nos ensina:

Devemos notar que, com esse modo de falar, o Senhor nos dá um ensinamento: de fato, não dizemos “fazei a vossa vontade”; tampouco dizemos “façamos a vossa vontade”, mas, sim, “seja feita a vossa vontade”. Com efeito, duas coisas nos são necessárias para chegarmos à vida eterna, a saber: a graça de Deus e a nossa vontade, pois embora Deus nos tenha criado sem nossa cooperação, todavia não nos justificará sem nossa participação. […] não se diz “façamos a vossa vontade”, para que não pareça que nada realiza a graça divina; tampouco se diz “fazei a vossa vontade”, como se nada valessem nossa vontade e esforço. Eis por que o Senhor nos ensinou a dizer: “seja feita a vossa vontade” com o auxílio da graça ao nosso empenho e dedicação” (S. Tomás de Aquino).

O Senhor nos garante sua graça, seu auxílio. De nossa parte, esforcemo-nos por desejar e realizar aquilo que o Espírito Santo nos faz dizer quando rezamos:

“Seja feita a tua vontade” .

Esforcemo-nos por discernir e conhecer a vontade do Pai (ler Ef 1,9; Ef 5,17; Cl 1,9). Quando a vontade do Pai é feita, nossa vontade vai-se libertando das desordens, nossa mente vai-se clareando, nossa vida vai-se transformando. (Ler Rm 12,2; 1Ts 4,3). Quando acolhemos o dinamismo da vontade de Deus, a fé se fortalece, a esperança não decepciona, o amor nos move, ficamos cheios de gratidão por reconhecer que Ele tudo governa com bondade e sabedoria (ler 1Ts 5,18).

Neste mês, encerramos o belo tempo da Páscoa com a Solenidade de Pentecostes. Peçamos com a Igreja toda: “Vem, Espírito Santo!”. Testemunharemos também no dia 29 a vinda do Espírito sobre jovens e adultos da nossa Paróquia na celebração do sacramento da Crisma. Por eles, peço a tua oração.

Com Deus, pe. júlio.