CARTA SETEMBRO 2018
“Somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros”
(Rm 12,5)
Caro irmão, querida irmã, a paz.
A Palavra de Deus, na pregação da Igreja, percorre os tempos, pela força do Espírito Criador, e quer chegar até nós, até cada um, para fazer-nos encontrar a Verdade e sermos, enfim, livres: “Se permanecerdes em minha palavras, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8,31b-32).
Não se trata, pois, de uma verdade teórica, uma ideia, uma filosofia, um sistema de pensamento, mas de uma realidade, um mistério vivo, uma Pessoa, o Filho de Deus, Jesus, que diz de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). A vida cristã é encontrar a Cristo, conhecer a ele, seguir a ele, amar a ele, viver por ele, com ele e nele! E, então, alcançados por Jesus (Fl 3,12), acontece um maravilhoso encontro: encontramo-nos a nós mesmos e aos outros, todos num único mistério, o mistério da Igreja, Corpo de Cristo.
“Somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12,5).
A própria razão humana já nos faz ver o quanto estamos todos conectados uns aos outros, por causa das relações familiares, de amizade, de trabalho… E em tempos em que a tecnologia da informação nos faz ter acesso até a desconhecidos do outro lado do planeta e em que a economia global põe praticamente todos os povos na dependência uns dos outros, fica fácil de entender algo como “somos membros uns dos outros”. Mas o que S. Paulo nos diz é algo muito superior e diferente do que simplesmente a compreensão de uma mútua necessidade e cooperação humana.
Para entrar no sentido de suas palavras e experimentar a verdade sobre nós ali trazida, é preciso justamente, diz-nos o Apóstolo, não conformar-nos com este mundo e renovar a nossa maneira de pensar e julgar, para discernir a vontade de Deus, “o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2), “de acordo com o bom senso e conforme a medida da fé que Deus deu a cada um” (Rm 12,3).
“Somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12,5).
De fato, S. Paulo nos fala de uma verdadeira comunhão entre pessoas humanas, que livremente decidem pôr a serviço uns dos outros seus diferentes dons e bens, que se auxiliam mutuamente nas dificuldades, numa união que envolve também os sentimentos, a “alegria” (Rm 12,8), o “amor fraterno”, a “terna afeição” e as “atenções recíprocas” (Rm 12,10). Porém, a origem, a razão última e o espírito dessa comunhão revelam aqui a presença de um mistério que faz ultrapassar a simples amizade e compaixão.
“Somos um só corpo em Cristo” (Rm 12,5).
A origem dessa comunhão fraterna vem da união com Cristo e em Cristo. Tendo sido unidos a ele, por sua graça, somos unidos por ele a todos quantos nele se encontram. Isso não vem de nós, de nossos sentimentos ou decisões – ainda que essa comunhão certamente solicite nossa adesão livre, nosso sim, nosso esforço. Essa comunhão entre nós é, antes de tudo, dom de Deus! É mistério de seu amor que nos irmana em seu Corpo! É comunhão de fé no mesmo Espírito (1Cor 12,4; Ef 4,4-5)!
“Somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12,5).
A razão dessa comunhão fraterna não é o mero contentamento ou a satisfação das nossas necessidades e carências ou a realização de alguns ideais. O fim último dessa comunhão não pode ser simplesmente corresponder a meus interesses ou aos das outras pessoas – ora, é justamente essa a mentalidade deste mundo, ao qual, diz-nos S. Paulo, não podemos nos conformar! A razão da comunhão fraterna está ligada ao verdadeiro culto espiritual que se deve prestar a Deus (Rm 12,1), pessoal e comunitariamente. De fato, vivendo nós o amor recíproco, recebendo o outro como irmão e irmã em Cristo, como parte de mim mesmo (“um só Corpo em Cristo… membros uns dos outros”), e permitindo agir em nós a caridade de Cristo e seu Espírito, realizamos a vontade de Deus, prestamos-lhe o serviço que lhe agrada (“servindo sempre ao Senhor” – Rm 12,11) e damos-lhe a glória devida a seu Nome, o Nome que Cristo revelou e que deve ser conhecido, honrado e amado: “Pai nosso!” (Mt 6,9). “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém” (Rm 11,36).
Consoante com essa origem e razão última, o espírito dessa realidade de unidade entre nós no Corpo de Cristo é indicada por S. Paulo: “alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12,12). A comunhão fraterna gerada por Cristo entre nós, pela união com seu Corpo, é uma realidade perfeita nos irmãos e irmãs que já gozam da eternidade; mas entre nós, peregrinos neste mundo, acontece na nossa existência sujeita a limites e imperfeições, a quedas e avanços. Ainda assim, não caminhamos no medo ou na desconfiança; ao contrário, a nós é dado acolher e viver a comunhão fraterna na alegria da esperança, pois sabemos que Deus, que nos chamou, é fiel e é ele quem agirá (cf. 1Ts 5,24), que é ele quem realiza em nós o querer e o fazer (cf. Fl 2,13). Prosseguimos com a sabedoria da humildade (“ninguém faça de si uma ideia muito elevada, mas tenha de si uma justa estima” – Rm 12,3), lembrando que não vem de nós a força para enfrentar as tribulações no caminho, mas dele. Por fim, perseveramos no caminho da fé e na comunhão com Deus e os irmãos, pela graça do mesmo Senhor, que nos acompanha, forma e alimenta em sua Igreja, de modo muito especial inspirando-nos ao encontro e convívio com Ele e entre nós por meio da oração pessoal e da oração em comunidade.
Quanta graça! E tudo isso está disponível para nós na realidade concreta de cada paróquia da Igreja! Também em nossa comunidade paroquial! Acolhamos tão grande dom de salvação e vida! Aproveitemos os lugares e espaços que se oferecem para nós no cotidiano de nossa Paróquia. Sobretudo, estejamos prontos para sair de quaisquer comodismos, participando intensamente de nossa vida comunitária.
“Somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12,5).
Neste mês de setembro, peço tuas orações pela obra de reforma e construção do novo centro de pastoral e catequese de nossa Paróquia. A nova edificação sinalize para nós também a sempre necessária tarefa de reformar em Deus nossa vida pessoal e comunitária e de prosseguir a obra de sua construção em nós e entre nós. Aos jovens que receberão o sacramento da crisma no dia 22, na missa das 19h30, nossas orações e acolhida fraterna, na alegria de testemunhar que neles o Senhor começa e prossegue uma bela obra. Sejam eles perseverantes, com nosso apoio fraterno. Por toda a vida de apostolado, de missão e caridade que acontece em nosso meio, cada encontro e atividade de oração e de evangelização, peço tuas orações, ficando também o convite para aderires mais e mais, dando os passos a que o Senhor certamente te convida. Ele quer mais para ti.
Em Cristo, pe. júlio.